domingo, 22 de dezembro de 2024

MANOEL CALIXTO CHEIO DE GRAÇA
E quem não se lembra de Manoel Calixto Dantas também chamado de "Manoel do Lanche?" Era um dos nossos poetas tipo populares. Ele tinha um local (box) no Mercado Público do Assu. Pois bem, na década de setenta, Calixto candidatou-se disputando uma vaga no legislativo assuense, pelo MDB. Ele era natural de Carnaúba dos Dantas e assuense por opção e escolha, terra onde viveu durante mais de cinquenta anos e fez boas amizades). Como não podia ser diferente, por ter convivido com os poetas do Assu, Manoel começou a escrever versoss. Sua predileção para versejar era a glosa (décima) e a trova.. Tempos atrás, os poetas da terra assuense aproveitavam os momentos de campanhas políticas para satirizar os candidatos e pedir o voto em forma de versos. E Manoel Calixto era um deles. Candidato a vereador, escreveu:
Negue o soldado ao Tenente,
Negue esmola ao aleijado,
Negue ao faminto o bocado,
Negue ao Major a patente,
Negue ao seu filho a benção,
Negue o direito ao patrão,
Negue tudo, isto eu suporto
Só não me negue o seu voto
No dia da eleição.
E essa outra:
Falte uma noite a seresta,
Falte ao garoto inocente,
Falte o remédio ao doente,
Falte uma noite de festa.
Numa fase como esta,
Falte tudo ao seu irmão,
Falte a festa de São João,
Todas as faltas suporto
Só não me falte esse voto
No dia da eleição.
Postado por Fernando Caldas

terça-feira, 17 de dezembro de 2024


E QUEM SE LEMBRA DA FORMAÇÃO DO GRUPO DOS 11, DO ASSU
Era 1963, tempo efervescebte no Brasil, o presidente João Goulart (Jango) para ser deposto, o político gaúcho, à época deputado federal pelo Rio de Janeiro, agitava, incentivava e orientava a criação do Grupos dos 11 (era um grupo de guerrilha) nas cidades brasileiras. Eram formado por onze pessoas de esquerda que tinha o objetivo de apoiar e dar sustentação as reformas de Base que o presidente Jango queria implantar no Brasil, inclusive a reforma agráparia.
Pois bem, onze pessoas incluindo nove jovens estudantes do curso ginasilal do Ginásio Pedro Amorim (da CNEG - Campanha Nacional de Educandários Gratuitos), e mais dois profissionais autônomos se movimentaram para a criação do Clube dos 11, conforme orientava Brizola.
Aquele grupocheio de entusiasmas foram incetivados por Gilberto Freire de Melo, Horácio Cunha, Edson Queiroz de Albuquerque e Joca Magalhães que eram no Assu, Funcionário dos Correios, Farmacêutico, funcionário do Banco do Brasil e comerciante, respectivamente.
Fundado no Assu o Grupo dos 11, foi dado notícia a Rádio Mayrinque Veiga, do Rio de Janeiro, aliada de Jango e Brizola, através de telegrama que dizia assim: "Estamos prontos! Só faltam as armas! Tanto a leitura através daquela emissora de rádio e a publicação dos nomes dos membros do citado clube em O Cruzeiro, importante periódico carioca, para serem taxados como comunistas e subversivos. Poucos dias depois, os membros daquele grupo foram notificados e intimados a comparecer ao Quartel General em Natal, para interrogatório e abertura de inqueritos militares.
Eram membros do Grupo dos 11 do Assu, Nuremberg Borja de Brito, Alzair Roberto Pessoa, Pedro Airton de Lima, José Wellington Germano, Francisco Eupídio da Silva, João leônidas de Medeiros Júnior, Demóstenes Amorim, Elian Cosme de Lima, Francisco Antônio Felix, Francisco Antônio Cosme Júnior (Chico Lamparina) e Demócrito Amorim (Teté).
Afinal, todos os integrantes do Gr-11, como era também chamado, da terra assuense tiveram como consequencias de responderem a inquérito militares e enquadrados como subversivos, obrigados a prestarem diversos depoimentos no Quartel General em Natal.
Alzair, já funcionário do Banco do Brasil, fora o mais penalizado, pois levou anos a fio prestando depoimento no QG. Todos foram ouvidos por certo Capitão do Exército que teria feito curso de tortura na Escola de Las Americas, na Guatemala, e Nuremberg, tempos depois, preso e torturado no Recife, onde participou de várias movimentos, inclusive queimando canaviais na terra pernambucana.
Por fim, Gilberto Freire, Horácio Cunha e Djalma Magalhães não fora envolvidos, porém, Edson Queiroz que também era funcionário do Banco do Brasil, teve seu nome envolvido. Ocorre que, quando o Inspetor do BB à época, se dirigia a cidade de Assu para ouvir e demitir Edson, o automóvel que ele conduzia teria virado nas proximidades de Lages e, as provas que carregava numa mala, fora extraviadas ou roubada por populares que presenciaram o desastre, para sorte de Edson Queiroz que continuou funcionário de carreira do Banco do Brasil. Fica o registro de um fato que enriquece a História da terra assuense, que participou de tantos conflitos ocorridos no Nordeste e no Brasil.
Fernando Caldas

sábado, 7 de dezembro de 2024

POESIA DE PÉ QUEBRADO

Poesia de pé quebrado, versos que foge da métrica e a expressão não está correta. Na cidade de Assu de tantos poetas, vivia um bardo chamado Inácio Nilo dos Santos (Inácio de João Pio como era mais conhecido). Boêmio inveterado e um exío imitador. Gostava de imitar as figuras de destaques do Assu como, por exemplo, Edgard Montenegro, Francisco Luciano Marques (Chico Galego), João Marcolimo (Lou), entre outros. Inácio era meu amigo, alías, amigo de todos os assuenses. Morreu ainda jovem, pois, era alcoolatra. Pois bem, na poesia de pé quebrado era dos bons. Senão vejamos:

I
A lua vinha nascendo
Redonda como um tijolo,
O tijolo caiu no cacimbão
'Tibungo'.
II
Lá vem a lua saindo
Por detrás das bananeiras
Não é lua, não é nada,
Adivinha o que era? Nada.
III
Subi num pé de coco
Pra ver meu amor passar
Ela não passou.
Eu desci.

(Postado por Fernando Caldas)

SURDINA

Um vento leve, os pés de lã,
Vem vagaroso, como uma carícia para a minha fronte.
Como será amanhã?
Na lembrança da tarde, outra tarde distante...
Os olhos para a terra, os olhos para o monte...
E distante
Na curva do caminho, a curva adiante,
Sem que me afoite,
Os passos que da tarde para a noite,
Sou distante...
Longe de mim, tão perto da minh'alma...
Uma pétala de rosa no meu rosto...
E o desgosto
A lembrança que fui d'aquela calma...
A calma que não sou, da minha vida...
Nova pétala de rosa, demorada...
que me trás esse vento, tarde amada?
Ah! a lembrança que me foi querida...
Um vento leve, os pés de lã,
Vem vagaroso, como uma carícia para a minha fronte.
como será amanhã?
sem que me afoite,
os passos que da tarde para a noite,
sou distante...
(João Lins Caldas, poeta o Assu (1988/1967)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

SOBRE AFONSO SOARES DE MACEDO


Afonso de Macedo como era mais conhecido, nasceu na aristocrática cidade de Assu/RN, no dia 11 de outubro de 1887 e encantou-se em Salvador/BA, no dia 22 de novembro de 1923, onde exerceu o cargo de 3. Escriturário da Delegacia Fiscal. Estudou no Atheneu Norte-rio-grandense, uma das mais antigas escolas secundárias no Brasil e bacharelou-se pela antiga Faculdade de Direto do Recife, em 1910 (foram seus colegas de faculdade as ilustres figuras da
terra potiguar como, Thomaz Salustino Gomes de Melo e Ezequias Pegado Cortez, entre outros), porém, a que tudo indica, nunca exerceu a advocacia. Procurou desempenhar o jornalismo, a literatura. E como jornalista, poeta e cronista, colaborou em importantes periódicos do Assu, Recife, Salvador e Pelotas/RS.

Afonso de Macedo esta antologiado por Ezequiel Wanderley, em Poetas do Rio Grande do Norte, 1922, Panorama da Poesia Norte Norte-Rio-Grandense, 1965, de Rômulo Wanderley. Pena que o antologista Ezequiel da Fonseca Filho, esqueceu de coloca-lo na sua antologia Poetas e Boêmios do Assu, 1984.
Este Afonso, penso eu, depois de deixar o Assu para estudar em Natal e depois no Recife até se formar em direito, nunca mais voltou a sua terra Natal.
Por fim, o livro sob o título “O Amor de um Canário”, feito de um poema só, publicado em 1. edição pela Officinas de G. Robato, Bahia, 1915, e em 2. edição (Fac-símile), editora AZIMUTH, 2021, do escritor e edditor Wandir Villar, é o livro de estreia deste bardo assuense chamado Afonso Soares de Macedo.
Vejamos o longo poema “O Amor de um Canário”, na grafia atual, adiante transcrito:
Livre e feliz no bosque e no espaço vivia
Uma vida, que a excelsa e sábia Natureza,
Nos seus infindos dons de imensa profundeza,
Reservado lhe havia;
Não tinha do ricaço
Esplendoroso paço
Onde fizesse o seu delicioso aposento;
Nem tão pouco possuía
De algum Creso qualquer o vestido opulento,
Joias de alto valor, de fina pedraria.
Tinha, no entanto, tudo
E era o que lhe bastava:
Um bem feito e macio e carinhoso ninho.
Aonde repousava;
Tinha como roupagem,
Não a seda e o veludo
Ou mesmo o próprio linho
Mas a sua amarela e elegante plumagem;
E para procurar
os meios de existência,
A bondosa Omnisciências
Deu-lhe asas para voar.
Nada faltava, pois, ao ditoso canário;
Ao romper da alvorada, ante belo cenário,
Que pouco a pouco, se ia
Desenrolando, além, pelo azul do Nascente,
Alegre desprendia,
Cheio de toda vida, harmonioso, contente,
Hinos de gratidão de alegria,
Operas de alegria,
Ao autor da criação,
E a sua saudação
Era a oração
Do dia.
Depois, cedendo às leis da própria contingência,
Deixava o ninho; e a voar
Pela floresta afora
Na tenaz diligência
De por ali achar
Um pedaço de pão,
Sem culpa muito embora
Da prevaricação,
Da desobediência,
Do nosso pai Adão,
Seu papinho, afinal, enchia grão a grão;
E as azas distendendo além
Pelo horizonte,
Já com sede também,
Achava onde beber uma límpida fonte.
Quantos ricos e reis, por esse mundo vario,
Estão inveja a ter da vida do Canário!
Filosofava agora; aqui e ali soltando
Curtos voos, assim
como quem vai notando
De cada cousa o belo e o seu principal fim;
Ora. à margem, parava, extensa e verdejante
De uma relva florida;
Que bela seiva, ali, quanto vigor pujante
Naquela vegetal e primorosa vida!
Ora a azas batia e, num voo altaneiro,
Ia agora pousar no cimo de um coqueiro;
E ali, naquela altura,
Instantes a passar, via o horizonte inteiro
E as belezas, sem fim, da esplêndida Natura.
Novos cantos, então, soltava à luz do dia,
Agora que o astro-rei, de novo reassumia
Sua ingente missão no espaço americano,
Onde deixa de ser um rei aristocrata,
Mas, puro liberal,
Liberal soberano,
Que, espalhando por tudo um esplendor igual,
Vem a tornar-se, assim, um grande democrata,
Junto conosco ser também republicano;
E’ que tanto se dá ao mais altivo monte,
Quanto â humilde hervasinha a circundar a fonte,
Tanto aquece o condor
No píncaro da serra,
Como vida e calor,
No mais fundo da terra,
N’uma dedicação paterna, indefinida,
Vai dar ao portador mais ínfimo da vida...
E o céu, a terra, o mar, o progresso da ciência,
Tudo, afinal, bem diz do sol a refulgência.
Tu também, avezinha as belezas de Apolo
Canta, que ele quer bem ao nosso amado solo.
Mas, de volta ao seu ninho, à hora do sol posto,
A lhe influir, talvez, a solene tristeza,
Que, então, se desdobrava em toda a Natureza,
O seu peito feria a ponta de um desgosto...
Porém foi o contrário,
Coube-lhe desta vez, subir o seu calvário;
O plano foi certeiro:
E’ que antes de tomar o seu ninho carinhoso
Próximo ali se achando um laço artimanhoso,
O infeliz Canário
De um malvado alçapão, tornou-se prisioneiro.
Misérrimo entre humano! entranhas de pantera!
Que mal algum te fez a inocente avizinha,
Flor – que o livre ar gosava, em plena primavera,
E maldades não tinha?!
Como privar-se assim, num impulso tigrino,
Aquele que nasceu por leis da Divindade,
Para viver no espaço.
Da sua natural e inteira liberdade,
Do seu ninho de amor, do seu natal regaço?
De onde, sempre ao surgir do painel matutino,
Saudava, hinos cantando, as glórias do Divino;
E agora triste assim, qual menino de escola,
Que não soube a lição,
qual um segundo Tasso,
Numa dura prisão;
Outrora hinos soltando à infinita amplidão,
hoje no ambiente cruel de uma estreita gaiola!
E o pobre animalzinho, aos poucos, definhava,
Não mais seu ninho ver,
O seu bercinho amigo,
Onde veio a nascer,
Não ter ali também o seu último abrigo!
E triste sempre assim já pensava em morrer,
pois da saudade a dor, dia a dia, o matava.
Mas a sorte quis dar-lhe uns dias de ventura,
Antes que ele tivesse uma morte prematura.
Um dia o seu algoz para extinguir lhe o mal,
A tristeza sem fim que o pássaro sofria,
Vamos ver, cogitava, se coaduno
Consigo alguma cousa de alegria,
Que lhe desperte um cristalino ideal,
Se faço a troca de Raquel por Lia
Ou da Nuvem por Juno;
Fácil é enganar-se pela vez primeira
Talvez que idealize alguma Companheira,
Talvez desejos tenha de fazer Casal;
E o ardiloso algoz
Ante à gaiola poz
Um enorme e faiscante espelho de cristal.
De certo, produzira essa feliz lembrança
O efeito desejado;
pois que logo notou-se uma grande mudança,
No todo do Canário, um diferente estado;
Surpreendeu-se primeiro;
E, um tanto desconfiado,
entre alegre e tristonho,
Dubio ficou se o fato era, em si, verdadeiro
ou se a igual, que além via, era o emblema de um sonho!
Chegou a crer, por fim, na ditosa verdade,
Tal de uma esposa ter era a sua ansiedade.
Beijos, em cantos, trinos, galanteios,
Sinais de amor, a todos esses meios,
Que lhe fossem provar sua ardente amizade,
O dândi recorria;
E mais a mais, então, ele se convencia
De ser correspondido o seu primeiro amor,
Pois tudo que fazia
Além reproduzia
O espelho enganador.
Quanto és bondoso, ó Deus, exclamava contente,
Quanto és sublime, ó Grande Artista da Criação!
Tal como deste ao rio – essa livre corrente
E o orvalho deste a flor,
Deste também o amor
Ao nosso coração.
E, paulatinamente, essa paixão crescia
E aumentava também
A sua doçura e veemente alegria,
A ânsia de se juntar ao seu querido bem.
Coitadinho, porém, do nosso Leandro,
Mas, desse nosso Leandro, cor de cedro!
Num castigo severo,
Num apertado meandro,
Separado se vê da sua amável Hero
Por tão cruel assim Hellesponto de vidro.
Té que o dia fatal
Do pobre do Canário,
Do louco, visionário,
Despontara afinal.
Um tredo gato, habilidoso artista,
Professor de magia, ilusionista.
Um tredo gato, habilidoso artista,
Professor de magia, ilusionista,
Já concebido o plano e o ardil magico,
Fizera desse amor um episódio trágico:
Assaltando à gaiola, em o momento dado,
Chegara a realizar o seu ideal sonhado.
Forte ilusão! enquanto o canário sofria
Do bárbaro assassino a sanguínea violência,
Tranquila, qual de um Justo, era a sua Consciência,
Mártir de amor, serena era a sua alegria:
E’ que na ocasião de ser assassinado,
Naquele mesmo instante,
Vira por igual dor passar a sua amante,
Chegara mesmo a ver seu corpo ensanguentado
Seu colo virginal, seu amoroso peito...
Num batismo de sangue o seu amor sangrado.
Eis a razão porque o iludido Canário
Afrontara com calma a dor do seu Calvário.
Ao menos, a ilusão causara-lhe este feito:
Morrera satisfeito.
(Há registro, portanto, que uma rua da cidade do Assu. leva o seu nome, porém é mais um dos esquecidos das letras assuenses).

Fernando Caldas

De: Assu Antigo

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

EU...TU

Eu sou doçura,
Mas o mel és tu
A imagem é minha,
Mas a cor é dada por ti
A flor sou eu,
Mas tu és a fragrância
Eu sou felicidade,
Mas a razão és tu...

Fátima Porto

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da nação e da formação múltipla da raça brasileira”, João Lins Caldas (nascido no Rio Grande do Norte em 1888, ano da abolição da escravatura no Brasil), já teria produzido no seu tempo de Rio de Janeiro, 1921, o poema patriótico e de exaltação ao Brasil intitulado 'Negra', que para Augusto Frederico Shimidt (1906-1965), o referenciado poema “vale por toda uma 'Raça' de Guilherme de Almeida." Vejamos os versos adiante transcrito:
O teu avô Costa d’África, filhinha,
Bárbaro, de uma negra irremediabilidade,
O teu avô, de tanga, acostumado ao Brasil.
Noites que despertou sob o chão do chicote!
O chão... tudo era um chão de látegos rangendo,
E ao longe o cafezal, a mata enorme se desbravando...
Hoje tem sangue turco em cada veia,
Um sangue português, a gemer gargalhada.
Um índio chegou, de solto, as tuas velas que se brilharam...
És muitos continentes, na verdade,
Quase negra, nos olhos,
Deixa ver-te os cabelos, enroscados,
Vamos, meu timbre louro,
Tu morrestes nas raças, diluída,
E nas raças do teu corpo eu que adoro a verdade.



segunda-feira, 18 de novembro de 2024

 NINGUÉM CONHECE NINGUÉM


Senhor: eu não acredito
Que ninguém escute o grito
De angústia que a fome tem.
Não quero saber quem foi,
Quem inventou o perdoe...
Se negando fazer bem.

A espécie humana rasteja,
Sem saber o que deseja
Nem mesmo para onde vai...
É marcha hostil da matéria,
Caminha tropeça e cai.

Não sei no mundo o que fui
Fui talvez Edgar Poe...
Um Agostinho... Um Plutão...
Nos festins da inteligência,
Mergulhei a consciência
E o vício estendeu-me a mão.

Na estrada dos infelizes
Na confusão dos matizes,
Nascem as flores também!
Sim, nos cérebros dos pobres
Há pensamentos tão nobres...
Ninguém conhece ninguém.

Fui nômade! Aventureiro,
Fui poeta seresteiro,
Um lovelace também!
Amei demais as mulheres
E procurei nos prazeres,
Marchar a face do bem.

Hoje, sinto a claridade,
Tenho, pois, necessidade
De meu passado esquecer.
Pouco importa os infelizes
À marcha das cicatrizes...
Se deixarem de doer.

Já viu lavar a desgraça?
Ou afogar na cachaça
A vergonha... a precisão?
É a fome conveniente
De tornar-se indiferente...
Podendo estender a mão.

Uma esmola por caridade:
É a voz da humilhação,
Morrendo de inanição
Não diga nunca perdoe,
Não queira saber: quem foi!
Esse alguém... é vosso irmão.


Renato Caldas

MANOEL CALIXTO CHEIO DE GRAÇA E quem não se lembra de Manoel Calixto Dantas também chamado de "Manoel do Lanche?" Era um dos nosso...